Entre aberta


Quando eu era criança acordava todos os domingos com a bagunça que meus pais faziam ao brincar com meu irmão mais novo. Na ponta dos pés eu ai até porta entre aberta e ficava ali, observando a diversão deles - era uma pitada de inveja e outra de felicidade. Hoje em dia, já crescido e com meus pais divorciados, às vezes me sinto como aquele menino que ia sorrateiramente até o quarto ao lado, de meias brancas, um elefante de pelúcia nos braços e a cara amassada de sono. Sinto-me assim quando fico parado observando seus passos, sentindo seu perfume em minhas memórias e juntando cada peça desse quebra cabeça que é nossa relação. Não tenho culpa se te espiono, se gosto de saber cada detalhe de sua vida e se me desagrada quando isso não ocorre. Cresci com essa curiosidade mórbida e cada vez ela se aperfeiçoá mais. Porém não se assuste com todo esse zelo, isso não significa que não confie em você e sim que gosto tanto que me faz bem saber do que ti faz bem. Sou assim, feito de detalhes estranhos e linhas mal traçadas.


Foto (modificada): http://balcaodomusico.ning.com/profiles/blogs/vassoura-atras-da-porta-ou