Muda e desmuda

Agora se digo que é fato
Outro ano anunciado
Mudar de vida não foi barato
Parecendo um pouco viciado

Nada pode desmudar
Apenas levar a vida
Vou indo para regular
Pois ainda não vindo

Outra temporada surgiu
Mudamos tanto que nem se viu
Agora não vejo a inércia chegar
Também não ouço ela se mudar

Tentativas

Uma vida em tentativas
Tentando ser um ser
Sendo quem tentei
Na tentativa de viver
Vivendo um novo ser
Será que tentamos demais
Demasiado ou não, não sei.

Seguimos tentando
Seguimos sendo
Seguimos vivendo
Vale a pena seguir?

Remédios

De todos os remédios o pior é ilusão
Ser crente que algo vai mudar
Sabendo que internamente você se diz não
Sentindo que tudo vai ficar igual
De todos os remédios o melhor foi a ilusão

Melhor amigo

Meu pior foi ser sempre o melhor
Amigo que você poderia contar
Ombro para todos  deitarem
Moço de recado para suas indiretas
Honesto demais para se aproximar
Louco o bastante para te aturar
Bobo para todos gargalharam
E sempre fui o melhor e cabei sendo o pior

Longínqua vastidão

O vasto do meu eu se desfaz sob o manto vazio
Voa para longe, fugindo rumo ao alto sombrio
Vade retro mal olhado que meu eu já consumiu
Vendo de perto seus defeitos e refletido por um fio
A vastidão longínqua me olha e define quem  sou, ou quem fui

Ultimo gole

Que amargo esse gole
Falta mel e agrião
Dor no corpo me consome
Latejando em meu coração
Outro gole de bebida
Um xarope meio fraco
Ameniza os calafrios
Esmaece o dia chato
Entornando o meu copo
Não sobrou nenhum gole
Minha cura escoou
Grunhindo feito um fole

Minha vida

Minha vida em desacato
Violenta em seus meandros
Esmangando o que era mato

Minha vida desolada
Cada gesto em descompasso
Cada fato isolado

Minha vida tão insossa
Vou vivendo desse modo
Onde em nada se traduz
Onde sempre falta luz