Clari Evidências


Clara é uma personagem comum, tão comum que é difícil de entendê-la. Em seus passos encontramos nossos traços, sua historia pode ser tanto minha quanto sua e ao mesmo tempo realidade ou ficção. .



Clara tem 22 anos, sempre centrada e vive simplesmente a complexidade da vida. Estudante de direito, não precisa trabalhar mais mesmo assim conseguiu um estagio e com essa grana ela paga suas baladas, essas que não são poucas. Vive nas ruas, seu fim de semana dura uns quatro dias. Isso quando não surge um especial na terça feira e a semana é um fim de semana inteiro.

Foi em um desses finais de semana que Clara conheceu Emanuel (na verdade ela ainda nem sabia o nome dele e isso só aconteceu dias depois desse sábado de muito calor). Já passavam das 03:00 da manhã e ela não havia beijado ninguém. Isso era praticamente um crime, pois balada e beijo só não eram sinônimos, pois um completava o outro.

Emanuel estava nos braços de uma loira, Clara não tinha certeza se os encarou por achar ele bonito ou por sentir falta de ser loira, seu cabelo pintado de chocolate 4.3 não lhe agrada mais. E ela ficou olhando para eles, sentiu uma doce inveja e saiu rumo ao bar, outra dose de tequila iria animá-la.

Momentos depois vem ele, o cara que estava com a loira, ele a segurou pelo braço direito e disse que a conhecia, ela sorriu, estava meio tonta e não conseguiu ficar brava com a atitude do garoto. Questionou de onde eles se conheciam, porém ele se afastou como se estivesse indignado por não ser reconhecido e ela ficou ali, com sua dose de tequila na mão e uma duvida na cabeça.

Os amigos de Clara já pagavam a conta, ela detestava isso, sair por volta das quatro horas a deixava irritada, pra ela a noite só termina com o raiar do sol, coisa meio obvia mais que muitos não notam. Mexendo em sua bolsa ela vê uma foto, nela o banco da praça ao lado de sua casa, ela adorava aquele lugar, tirou a foto há alguns meses atrás e sempre carregava ela na bolsa junto de outras lembranças que lhe deixam feliz, mesmo que passageira ela adorava sentir isso ao olhar para fotos, papeis, suas recordações. Esse momento foi clicado num dia em que ela estava triste e gostou tanto da foto que foi revelar no mesmo dia. Clara sempre ia ao mesmo local para fazer suas revelações, porque era onde tinha um atendente com dentes perfeitos, ele sempre sorria pra ela. Clara parou por um minuto, foi em direção a uns sofás no canto da boate, segurou no ombro do cara e disse:


- As melhores fotos são tiradas nos piores momentos.


Emanuel sorriu para ela, assim como fazia todos os dias em que ela aparecia com seu pen-drive cheio de fotos e historias. Essa frase ele disse a ela no dia em que ela foi revelar sua foto do banco, ele percebeu seu rosto inchado de tanto chorar e não gostou disso, ele gostava dela sorridente, contando a situação de cada clique. Eles trocaram olhares, sorrisos, ele deu um gole na cerveja, ela respirou fundo e se beijaram, por alguns minutos, exatamente durante duas musicas, as mais agitadas que para eles soaram como melodia de uma comedia romântica.

Por fim eles se despediram, os amigos de Clara já estavam indo embora e ela não podia ficar mais. Ela ainda de mãos dadas com ele perguntou seu nome. E novamente ele se afastou com um olhar de repreensão para ela, como se fosse requisito básico ela já saber seu nome. Ele soltou sua mão e disse:


- Eu uso crachá, descubra meu nome.


E saiu de perto, Clara pegou sua câmera e tirou uma foto dele em meio a algumas pessoas que ainda dançavam mesmo com as luzes já acesas. No carro ela se lembrava do beijo forte dele. Beijava como se ele estivesse com raiva ou muito ansioso. Ela não aceitava a idéia de ficar assim, como alguém pode mexer com ela em poucos minutos e sair sem nem falar tchau. Ela não desistiria tão fácil assim.

Sempre perdemos bons momentos por sentirmos certa raiva das pessoas e muitas vezes nossas ações estão erradas. Clara agora passaria a notar os detalhes, sentir melhor os sabores e buscar viver cada minuto como se fosse o mais importante, para não perder tempo perguntando nomes e registrando frustrações.

foto: Catarina Krug site olhares.com

ps: Meu primeiro conto, sem ponto, nó ou ajuste.