1982

{ADVERTÊNCIA ! Esse texto foi escrito ao som de Secret do Marron 5, se ler ouvindo tal som os efeitos alucinógenos podem se intensificar.}

Estava eu ali, parado no meio da praça. Olhava ao redor e todos pareciam andar em câmera lenta, eu sei que não existia mais mesmo assim comecei a ouvir a introdução de uma musica desconhecida, tocada no violão e que me fez ter alucinações.

Continuei ali delirando em meu estado rem, mesmo acordado sonhei. Permaneci desse modo por horas, dias, meses. Tornei-me estatua viva. Os pombos, as pessoas, a grama crescendo em volta dos meus pés, tudo me deixava pasmo com essa passividade em que me encontrava.

A praça? Essa se moldou aos meus pensamentos, durante os instantes vividos em meio a multidão inexistente (eternos instantes), o mundo deu uma volta e o dia ficou claro, e a guerra das Malvinas iniciou, e a Itaipu começou a gerar energia, e Bert McCraken nasceu, assim como Grace Kelly faleceu, e Michael Jackson dançou ao som de Thriller e mesmo assim não interagi com a sociedade, o medo de esquecer-te me condenou a perder minha vivacidade.

E com o passar dos anos minha historia não mudou, a praça foi restaurada, inventaram uma placa e colocaram nos meus pés, uma placa com um nome que não era meu, descreveram uma bela historia, mais ela também não era minha.

O tempo não me deixou envelhecer, minha pele de concreto não tinha rugas, minhas roupas não tinham cor e minhas mãos continuavam segurando o livro por elas escrito. Eu já sabia no dia em que te conheci que o meu caixão seria iludir-me com você. Entretanto decidi viver essa historia, uma historia que já nasceu condenada a morte Fui feliz pois tive seu sorriso, fui feliz nas noites que senti seu cheiro misturado com o meu e permaneci feliz ali na praça. Eternamente divagando hipóteses de como a vida seria ao seu lado.