Clari Evidências: 13 Luas

Se desej
-->ar conhecer o inicio dessa fabula emocional leia: Clari Evidências.


Muitos ainda não a conhecem, mais ela existe e vive uma historia, nem ela percebeu, mais essa era uma historia de amor. Clara conheceu Emanuel em uma balada. Ele com o olhar instigante, sorriso perfeito e um ar misterioso que há deixou muito tempo divagando idéias tolas sobre como ir atrás do cara que a beijou uma única vez e a ensinou a observar os detalhes.



Treze dias após Clara conhecer Emanuel ela ainda pensava nele. Nunca alguém havia feito isso com ela. Clara tomava o café fraco de sua avó todos os dias e sempre no ultimo gole lembrava-se do instante em que tirou a foto de Emanuel, em meio aos poucos que resistiam a dançar na balada anterior, que se tornou inabalável assim como a canção. Ela voltava a lembrar dele na hora do almoço, sempre na mesma lanchonete, ela não era de variar muito, seu almoço resumia-se a um salgado de presunto e queijo e nas terças e quintas-feiras o especial da casa, a torta de frango que sempre vinha com muita batata palha, mas Clara não gostava do catchup da lanchonete, era picante e isso a fazia se lembrar do beijo forte e arredio de Emanuel naquela noite. Às vezes, antes de dormir, quando ia pegar água na geladeira, vinha uma brisa fresca do congelador, ele estava sem a tampa a algum tempo e essa brisa era semelhante ao frio na barriga que ela sentiu ao beija-lo.
Essas recordações a irritavam, até mesmo no bar onde ela foi no ultimo final de semana, ela viu nitidamente em sua cabeça o rosto dele ao ouvir a introdução de ”Island in the Sun, era como se ela ouvisse ele lhe dizendo: ”And it makes me feel so fine, I can’t control my brain”. Ela não podia mais permanecer desta forma, era necessário a existência de um ápice, um conflito em sua fabula emocional vivida nesse momento. Decidiu revelar novas fotos, reuniu 15 das melhores, foi ao estúdio de fotografia, com o propósito de ver o sorriso do atendente, que beijava com ferocidade e que ela temia não sentir novamente seus lábios e sua barba mal feita em um conjunto sensível e atraente. Clara sempre foi muito tátil, sentia prazer ao tocar, tatear os detalhes, vivenciar as formas e apreciar as texturas.
Chegando ao estúdio la estava ele, no fundo da loja, revirando alguns papeis, estava de frente a um espelho por onde a viu entrar Ela ficou parada, apoiou-se no balcão e aguardou sutilmente ser atendido. Ele menosprezando o fato do reflexo mais bonito que já viu ter entrado na loja ficou onde estava, fingindo não ter visto ou realmente impondo uma arrogância que era o único traço de sua personalidade conhecido por Clara. Instantes depois ouvisse o soar da campanhia, daquelas antigas que ficam sob o balcão e nunca são utilizadas. Hoje ela foi de grande utilidade, foi o ponto de partida da ruptura do silêncio entre a doce estudante que não aceita o fato de estar apaixonada e um amante que não aceita não ter sido reconhecido pela garota a quem presenteou com inúmeros sorrisos bobos.
Ele veio em sua direção, ela imediatamente varreu um olhar para o seu crachá, se enganou ao pensar que finalmente descobriria seu nome, o crachá tinha um adesivo de smile em cima do nome dele e ela gritou de raiva, gritou em pensamento, mais seria um grito muito estridente se fosse real. Antes que ele falasse algo ela estendeu seu pen-drive, ele recolheu, preencheu a ficha de revelação e finalmente pronunciou a primeira frase trocada por eles depois de mal resolvidamente terem selado um desencontro casual de um fim de semana outrora apreciado:
- Posso revelar todas?
Clara acenou que sim, pagou pela revelação, guardou o comprovante, recolheu as moedas do troco e saiu. Levemente balançava a cabeça como forma de protesto, não gostava nada dessa situação. Nesse momento ela houve a voz do atendente lhe perguntado:
- Posso saber seu telefone?
Ela se vira, coloca o cabelo atrás a orelha, seu brinco brilha perante a luz fluorescente do ambiente e deixa escapar um sorriso fechado, sem mostrar os dentes, não queria demonstrar alegria e nem indiferença, deseja o equilíbrio entre as emoções e assim respondeu:
- E eu? Posso saber seu nome?
Ele retirou o adesivo propositalmente colocado em seu crachá e as letras foram surgindo: E-M-A-N-U-E-L. Ela se aproximou do balcão e sobre a ficha de revelação escreveu o numero de seu telefone. Por mais que desejasse ficar ali e vivenciar o êxtase do momento, ela saiu, foi andando pela rua vagarosamente, se perdendo em pensamentos até ser interrompida com o som de seu celular tocando, ao atender ouviu do outro lado da linha Emanuel:
- O que você vai fazer agora?
Ela pensou, olhou para a porta do estúdio de fotografia e sem hesitar:
- Esperar você me convidar para um café.
Esse foi o primeiro encontro. Um café na esquina do estúdio, ele mostrou que um pouco de canela no café era uma mania particular. Eles passaram a se ver periodicamente, um dia no cinema, outro no teatro, um dia ela desmarcava, outro ele faltava, um dia se beijavam, no outra uma transa, um dia o beijo era o único assunto e em diversas noites conversavam por horas. Clara percebeu que ficar com uma pessoa não era a coisa mais difícil e que ser correspondida era a melhor sensação que existia. Assim como Emanuel investiu em romance, sempre perguntando como foi seu dia, presenteando com bombons e sendo a pessoa mais carinhosa do mundo. Ela se sentia muito atraída por ele, em alguns momentos o sexo era a melhor motivo em se relacionar. Ele elogia seu cabelo, fazia o jantar, massageava seus pés e não a deixava se cansar. Viram-se todos os dias, durante treze dias seguidos, sem deixar de se falar, sem parar de pensar um no outro, sentido a insegurança de um começo, o medo de um fim e o desejo de um meio. Ela via nele um homem forte, mesmo quatro anos mais novo, ele era mais responsável, mais brando em seus extremos e mais doce ao cantar uma musica em seu ouvido. Ele via nela uma pessoa em quem confiar, alguém que depois de fazer amor se podia conversar e confessar dilemas, alguém que mesmo não falando muito lhe dizia tudo que desejava ouvir e que sempre estava disposta a ir onde quer que fosse pra viver essa paixão.
No décimo quarto dia eles não puderam se ver, só se falaram por telefone. Ela em um canto da cidade, ele no outro. Clara pronta para uma formatura, Emanuel se preparando para um balanço. Ele desejou uma ótima noite a ela, ela riu e pediu que ele não dormisse em serviço. Ela sentiu tes
-->ão. Ele sentiu medo.
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Todo começo tem que ser assim? Um sempre tentando adivinhar o passo do outro? Clara e Emanuel por uma noite não se viram, por algumas horas não se falaram e isso doeu demais, foi como uma separação. Todo começo é explosivo, o inicio sempre nos parece ameaçado por um rompimento que não esperamos. Mais eles sentiram - ouvindo o timbre da voz um do outro - que estavam em sincronia. Mesmo assim Emanuel ficou com medo. Medo do álcool, medo dos homens, medo de Clara, medo de não confiar no ser humano. Afinal o que é mais passível ao ser humano do que sentir medo?

foto em: olhares.com.br