O passar do tempo

Era uma alma, solitária e melancólica. Ressentida com seus sentidos que insistiam em s.e.n.t.i.r ( ou sem ti). Não amava - se apaixonava - perdidamente, até se perder. Seu extremo era épico, um sentir doloroso, um querer reprimido, que não conseguia fugir. Desde sempre ela vagava, entre corpos, corações, entre seres e ilusões. 

Primeiro foi amada por Cândido, um ilusionista de verdade, fazia tantas estripulias que ganhava corações. Mas como bom trabalhador, Cândido iludiu a alma e para ela, não forjou amor. 

Depois veio o dançante, um cavaleiro medieval de armadura flamejante. Uma chama era azul, cintilante e de dono algum. Ele foi para o estrangeiro, deixando a alma desalmada, mas esse não foi o primeiro.  

Logo após surgiu o lenhador, sincero,forte e cheio de encanto. A alma, que já não acreditava em nada baixou a guarda, ela se entregou ao amor. Os anos se passaram, e a alma de nada mais lembrava como um dia já foi. Mas quando a matéria prima acabou, o Lenhador havia mudado, buscava outro amor.

           Nossa alma, tão querida, estava novamente sozinha, estava ferida. Trancada em um calabouço, ela não se envolvia, todo reino era festa, ela alimentava a melancolia. Um jovem bobo da corte apareceu, fugindo do tédio daquela noite, veio ao encontro dela e nada se falou, se olharam e entre olhares, um longo beijo, sem nada de amor. Ele estava preso na alegria da juventude, já nossa alma estava amarga, com a toda sua grande magnitude. Não foi esse e nem o próximo que a fez sorrir. Foi um outro, antes desse que agora descrevi. 

        Um samurai enferrujado, depois da guerra, nunca mais havia lutado. Não sabia muitos golpes, nem tinha muita agilidade. Ela se aproximou, para observar sua fragilidade. A alma sabia que não deveria se envolver, correr o risco novamente, mas não ligou e arriscou, se entristeceu novamente. Ele não tinha feito mal algum, o que existia era o inverso, era tão bom estar com ele, que não coube nesse verso. Por fim se passaram alguns meses e o Samurai partiu, foi para uma nova batalha, que nem soube explicar como surgiu. Dessa vez não foi o modo que conquistou, nem a beleza que era tamanha, foi o som de sua voz, sua expressão fazendo manhã. Nem teve como resistir, nossa alma se envolveu completamente e partiu, buscando vencer as batalhas ao lado do samurai. Não que ela tenha reconhecido o seu ultimo afeto, ela simplesmente parou de procurar por algo correto e decidiu lutar pelo nem tão correto assim. E com isso FIM.