Desvincular

“A folha, amiga do silêncio, deixa o vento falar por ela."
Guillevic (poeta francês 1907-1997)

Foto: Aninha

E fale por mim também, não me deixe enfrentar esse desafio sozinho.
Temo ir contra meus princípios, temo ser o que não sou, só para impressionar.
Use de sua voz e me oriente. Me de as coordenadas necessárias para chegar ao fim.
Sinto o vento entre meus dedos e eles apontam para seu lado, mas a razão resiste.
O corpo nesses casos de sentir é fraco, a mente não. Em meu pensamento ja esqueci.
Outro que adora ir contra a lógica é o tal do coração. E como vai.
Ele tem vida própria, desenvolve conceitos que vão contra todos os desejos.
Ele sim ainda pensa, senti, sonha e precisa de sua volta.
Como não sou feito de coração, resisto.
E fico observando, novos sorrisos, olhares, sentindo novos aromas e sabores.
Resquícios sempre existirão, mais o modo de sentir se modifica. Adapta-se as circunstâncias.
Só me entrego à tristeza, quando da janela do trem onde embarguei, enxergo de longe o passado. Noto como tudo foi intenso e como tudo não passou de um mero "E se...”.
Mas desse modo até mesmo o passado senti falta de mim, pois ele nunca descobrira como seria se entregar.
Um passo adiante pode nos dar medo, porém não dar esse passo nos mata pouco a pouco.